A Atuação da Enfermeira no Atendimento Pré-Hospitalar



Atualmente, no Brasil, o atendimento pré-hospitalar está estruturado em duas modalidades: o Suporte Básico à Vida (SBV) e o Suporte Avançado à Vida (SAV)(11). O SBV consiste na preservação da vida, sem manobras invasivas, em que o atendimento é realizado por pessoas treinadas em primeiros socorros e atuam sob supervisão médica. Já o SAV tem como características manobras invasivas, de maior complexidade e, por este motivo, esse atendimento é realizado exclusivamente por médico e enfermeira. Assim, a atuação da enfermeira está justamente relacionada à assistência direta ao paciente grave sob risco de morte.

Esta incorporação da enfermeira no atendimento pré-hospitalar não é nova, como foi citado anteriormente, quando estas estiveram presentes nas grandes guerras; mas só é bem evidenciada no Brasil a partir da década de 90, quando a estruturação do atendimento às urgências/emergências ganha um novo foco.

Dentre os diversos dados levantados, encontrou-se várias descrições de atribuições da enfermeira e recomendações sobre seu perfil: possuir formação e experiência profissional, extrema competência, habilidade, capacidade física, capacidade de lidar com estresse, capacidade de tomar decisões rapidamente, de definir de prioridades e saber trabalhar em equipe(10).

Apesar dessas recomendações apenas recentemente se iniciaram, no Brasil, cursos de especialização específicos para atendimento pré-hospitalar.

No seu estudo, Thomaz(7) diz: "o enfermeiro é participante ativo da equipe de atendimento pré hospitalar e assume em conjunto com a equipe a responsabilidade pela assistência prestada as vítimas. Atua onde há restrição de espaço físico e em ambientes diversos, em situações de limite de tempo, da vítima e da cena e portanto são necessárias decisões imediatas, baseadas em conhecimento e rápida avaliação".

Todavia a atuação do enfermeiro não se restringe à assistência direta. Azevedo(6) relata: "Ao longo dos últimos anos, tenho participado de vários cursos de capacitação técnica e capacitação pedagógica, já que o enfermeiro, neste sistema, além de executar o socorro às vítimas em situação de emergência e fora do ambiente hospitalar, também desenvolve atividades educativas como instrutor. Como parte da equipe técnica, participo na revisão dos protocolos de atendimentos, elaboração do material didático, além de atuar junto à equipe multiprofissional na ocorrência de calamidades e acidentes de grandes proporções".

No Brasil, a atuação do enfermeiro e a sua capacitação está em atraso, se comparados com outros países como, por exemplo, Estados Unidos e França, que possuem um sistema de APH mais desenvolvido, nos quais os enfermeiros têm sua função consolidada e reconhecida em seus sistemas de atendimento. Mas, mesmo nos países desenvolvidos, a função do enfermeiro é constantemente repensada.

Thomaz(7) informa que a Emergency Nurses Association propõe que o grau de dependência ou independência nas intervenções do enfermeiro esteja relacionado com as ações práticas da enfermagem e com uma política institucional e educacional. Entre as proposições daquela entidade está o desenvolvimento de protocolos de atendimento ao trauma, que têm possibilitado, à enfermeira, atuar com um grau maior de independência, conservando o aspecto de interdependência das atividades da equipe de atendimento ao prover os cuidados aos pacientes vítimas de trauma. Em relação aos protocolos é importante registrar que, no Brasil, são utilizadas referências internacionais, com adaptações à realidade nacional.

A questão da atuação de profissionais não-médicos com treinamento específico e a atuação de médicos e enfermeiros, que possuem maior grau de conhecimento e especificidade para prestar atendimento às vítimas, é discutida e questionada em todos os países que possuem sistemas de atendimento pré-hospitalar. A problemática se iguala: se por um lado fica a dúvida - até que ponto profissionais não-médicos pode ser treinados e se tornarem capazes de realizarem procedimentos médicos, por delegação do mesmo, por outro lado, fica a restrição de sustentar um sistema exclusivamente por médicos e enfermeiras, cuja remuneração é mais alta do que os para-profissionais.

Na França, os governantes partiram do seguinte princípio: nenhum treinamento pode substituir o currículo das escolas médicas e de enfermagem que ensinam, durante anos, a reconhecer as doenças, a indicar e a realizar o seu tratamento. Contudo, eles enfrentam alguns problemas, como a falta de recursos para manter o sistema, que tem custo muito elevado, e a falta de médicos para manter o sistema ativo6.

Já para os norte-americanos, que se baseiam em pesquisas quantitativas, o paramédico bem treinado é capaz de oferecer os mesmos cuidados de emergência que um médico, desde que as condutas médicas de emergência sejam sistematizadas. No entanto, o paramédico deve estar em contato com a central de comunicação recebendo instruções do médico responsável(10).

No Brasil, a antiga CRAPS, propôs um sistema de atendimento pré-hospitalar realizado exclusivamente por médicos, mas o fator econômico inviabilizou essa proposta, ficando a participação dos médicos e enfermeiras limitada a casos de maior gravidade, para os quais são previstas duas ambulâncias mais equipadas os veículos de "suporte avançado", ou UTI móvel, e um helicóptero(10).

Como se pode apreciar no acima exposto, o caminho percorrido desde a inserção da enfermeira no APH, seja no Brasil ou em países mais adiantados nesse sistema, ainda está por ser consolidado. Contudo, já se pode vislumbrar que, em pouco mais de duas décadas de atuação nesses serviços em nosso país, sua participação tem constantemente se ampliado e tornado-se imprescindível e definitiva.




Referências

6. Azevedo TMVE. Atendimento pré-hospitalar na Prefeitura do Município de São Paulo: análise do processo de capacitação das equipes multiprofissionais fundamentada na promoção da saúde [dissertação]. São Paulo (SP): Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 2002. [ Links ]

7. Thomaz RR, Lima FV. Atuação do enfermeiro no atendimento pré hospitalar na cidade de São Paulo. Acta Paul Enferm 2000; 13(3): 59-65. [ Links ]

8. Martins PPS, Prado ML. Enfermagem e serviço de atendimento pré-hospitalar: descaminhos e perspectivas. Rev Bras Enferm 2003; 56 (1): 71-75. [ Links ]

9. Okumura M. Atendimento pré-hospitalar de vítimas de acidentes de trânsito (Serviço de Atendimento de Primeiro Socorros da DERSA). Rev Hosp Clin Fac Med USP 1989 maio-jun; 44(3): 128-32. [ Links ]

10. Ferreira CSW. Os serviços de assistência às urgências no Município de São Paulo: implantação de um sistema de atendimento pré hospitalar [dissertação]. São Paulo (SP): Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 1999. [ Links ]

11. Malvestio MAA. Suporte avançado à vida: análise da eficácia do atendimento a vítimas de acidentes de trânsito em vias expressas [dissertação]. São Paulo (SP): Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 2000. [ Links ]



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